segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Solito

                                                       
                                                                 

                                                                           Solito    

Depois de chegar da lida
me achego pra perto do rancho
onde o ar da primavera 
deixou  as flores da varanda
quase sem vida.

Já não tenho mais
o aconchego da prenda,
morena, brejeira
que fica mais linda 
com seu vestido de chita.
Hoje, só, nem mesmo uma visita.

No galpão do rancho
atiço as brasas
do fogo de chão
encosto a cambona
e vou preparando o chimarrão.

Ao sevar o mate solito
mirando a imensidão
chego a sentir o perfume
daquela que me abandonou.

E assim vou passando
meus dias, reparando os currais
lembranças de tempos
que não voltam mais.

Cai a noite, 
da janela vejo o verde,
a imensidão.
É a natureza marcando
a nova estação.

Amanhã cedinho
vou pra lida com meu pingo
leal companheiro, amigo verdadeiro.
Cavalga por estas paradas
sempre junto comigo.
É com ele que divido
as dores do meu coração partido.

O rancho está só
eu busco na lida
um jeito de esquecer
aquela prenda que fingia me amar
e que me deixou
no rancho quase tapera
a esperar por ela,
que sei, não vai voltar.



[Vera Lucia Soares Feijó]




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